O PEITO OCO: Uma Jornada Literária com Suzana Amorim
Conhecendo a Autora e sua Obra de Estreia

O PEITO OCO
Entrevista com a autora Suzana Amorim.
@suzana.amorim_
Por EVELYN RUANI
Coordenadora Técnica Educacional das Bibliotecas Escolares do SESI-SP, criadora de conteúdos literários e leitora compulsiva! Apaixonada por livros e palavras.
SERVIÇO
Blog: http://blogentreaspas.com
Instagram: @blog_entreaspas
Email: entreaspasb@gmail.com
Suzana Amorim é psicanalista, membro do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, formada em Psicologia pelo Mackenzie e em Teatro pelo Macunaíma. Já trabalhou na área hospitalar e corporativa e, desde 2018, atua clinicamente em consultório particular, com atendimentos online e presencial em São Paulo, capital. E-mail: suzana.afn@gmail.com
Vem comigo conhecer um pouco mais sobre essa autora e sua obra:
O peito oco é seu romance de estreia e foi aprovado no pitch editorial do Encontro Nacional de Escritoras. Como foi essa experiência para você?
Foi uma experiência maravilhosa de abertura e contato com profissionais que não eram antes da minha circulação, já que sou psicanalista e O peito oco é meu primeiro romance. Ter tido a oportunidade de realizar o pitch para Dani Costa Russo, idealizadora e responsável pelo Selo Auroras, e ter sido uma das selecionadas foi um ponto de virada na vida do livro, e, claro, na minha.
O livro aborda a maternidade real e a depressão pós-parto, temas ainda cercados de tabus. O que a motivou a transformar essa vivência em literatura?
Há uma teorização psicanalítica que entende o ato de narrar como a possibilidade de transformar vivência em experiência, ou seja, atribuir ao vivido um outro caráter. E foi essa minha primeira motivação: a de dar estatuto de experiência àquilo que eu vivi de forma intensa e emocionalmente desordenada. Transformar minha vivência em literatura, então, foi a via de assimilar as mudanças que se apresentaram com a maternidade.
Você menciona que a maternidade não trouxe o preenchimento esperado para a protagonista. Como foi o processo de construir essa narrativa de forma tão profunda e honesta?
A grande surpresa da personagem, a meu ver, foi ter se deparado com o fato de que as fórmulas previamente conhecidas não correspondiam com o que ela se viu sentindo ou fazendo. O que se prega como maternidade ideal ou aquilo que poderíamos chamar como "romantização da maternidade" está a serviço do controle sobre nossos corpos e sobre nossas ações e presta um imenso desserviço à pluralidade das maternidades e à conexão singular que cada família fará com o novo integrante. O que se apresentou como realidade para a protagonista, diante de tantas expectativas, foi que preencher o vazio seria um processo de construção e não um botão automático de "maior amor do mundo".
Como a sua formação e atuação como psicanalista influenciou a escrita do livro e a construção da personagem principal?
Acredito que minha formação e atuação estejam presentes no conteúdo, mas sobretudo na forma como o livro se estruturou. O vai e vem temporal dos capítulos muito se parece com um processo de análise em que, ora o analisante está às voltas com suas questões do presente, ora está resgatando fatos ocorridos em outros tempos - e que não deixam de se atualizar e ter efeitos sobre a vida atual. Também há outra característica do livro que conversa com a psicanálise que é o fato de nenhum personagem ter nome. Eles são reconhecidos pelo leitor a partir da posição que ocupam na história. A protagonista é, por exemplo, mãe, filha, esposa, sobrinha ou amiga a depender da relação que está em jogo. Ou seja, é a partir do Outro que nos definimos.
No livro, há uma alternância entre presente e passado, explorando lutos, amores e relações familiares. Como essa estrutura narrativa contribui para a história?
É como se o leitor fosse descobrindo as personagens à medida que elas mesmas também vão se entendendo. É uma estrutura que permite construir sentidos conforme a história e a pré-história vão se revelando.
Você destaca que além de parir um filho, é preciso "parir uma mãe". Como essa reflexão se manifesta ao longo da obra?
Na linguagem corriqueira, quando queremos nos referir a algo como difícil, dizemos: "isso foi um parto". Tão trabalhoso quanto ter um filho é o processo de tornar-se mãe. O livro nos conduz justamente neste processo que só se consolida se for marcado por uma intenção.
O livro mistura profundidade e ironia. Como foi equilibrar essas tonalidades ao abordar um tema tão delicado?
A profundidade está no fato do narrador em terceira pessoa estar muito próximo do interior das personagens e a ironia está na denúncia das incongruências entre ideal e real, além de ser um recurso para dar o tom da grande senhora debochada que em tantos momentos a vida é.
A ilustração de capa é assinada por Ju Maia. Como foi o processo de escolher essa identidade visual para O peito oco?
Das boas coisas que as redes sociais podem oferecer, o alcance a pessoas que não teríamos por outros meios é uma delas. Minha chegada à Ju Maia se deu por intermédio da Mel Knolow, retratista incrível e minha amiga, que indicou o trabalho da Ju. Passeando pelo feed no @essajumaia, encontrei a concentração de todos os elementos que imaginava para a identidade visual do livro: partes de um corpo, cor vermelha bem presente, componentes um tanto abstratos. A capa do livro é o recorte de uma obra maior em aquarela chamada "Lúdica".
Como tem sido a recepção do livro entre leitores e leitoras, especialmente mães que podem se identificar com essa experiência?
Essa é uma experiência especial e gratificante, ainda mais considerando que, no momento em que estamos escrevendo, escrevemos tão somente pela própria necessidade de escrever. Sentir a reverberação da obra é, decerto, um motor para manter ativa a escrita.
Você já pensa em um próximo projeto literário? Podemos esperar novos livros abordando temas relacionados à psicanálise e à maternidade?
Se O peito oco é uma obra literária com toques psicanalíticos, no último ano, fiquei dedicada à produção de um trabalho psicanalítico que abordou a escrita literária. De certa forma, mantive a proximidade dos campos, mudando apenas a perspectiva. Espero agora, com este último finalizado, inverter novamente o prisma e retomar a produção de literatura.
O livro pode ser adquirido na Amazon.
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